Mundo Indefinido: Sandeman, uma visita às caves de vinho do Porto

O vinho é produzido exclusivamente a partir de uvas provenientes da Região Demarcada do Douro, que começa a cerca de 120 quilómetros a leste da cidade do Porto e abrange uma área de quase 250 mil hectares. A primeira demarcação da região foi feita pelo Marquês de Pombal já em 1756 (em 2016 faz 260 anos!).

(via Museu do Douro)

Depois de colhidas as uvas, o vinho é geralmente produzido em quintas e depois transportado para as caves de Vila Nova de Gaia, onde fica a envelhecer. É armazenamento a uma temperatura naturalmente fria, devido à construção das próprias caves. Junto ao cais de Gaia e ao cais da Ribeira, entre as duas margens do rio Douro, ainda é possível ver alguns barcos rabelos, agora com funções meramente turísticas, que antigamente faziam o transporte do vinho desde as quintas produtoras até às caves.

Assim, e apesar de ser exportado para todo o mundo a partir da cidade do Porto, o vinho é produzido com uvas do Douro e armazenado em Vila Nova de Gaia. Ali, com uma vista fantástica para o Porto, encontram-se diversas caves prontas a receber visitantes. O acesso às caves é muito fácil para quem vem do Porto: basta atravessar a Ponte Luiz I e as primeiras ficam logo ali ao pé.

Num edifício de 1811, bem perto do rio, encontram-se as caves The House of Sandeman. A marca foi criada em Londres em 1790, quando George Sandeman, um jovem escocês, se especializou na venda de vinhos do Porto e de Jerez (no sul de Espanha). Recentemente, em 2002, a empresa passou a ser detida por capitais portugueses, tendo sido adquirida pelo grupo Sogrape. Este grupo detém outras marcas de vinho do Porto, como a Ferreira e a Offley.

As caves possuem um pequeno museu, de entrada gratuita, onde é possível saber mais sobre o fundador da Sandeman e sobre a história da própria marca. Por ali, encontramos cápsulas originais, pinturas, fotografias, cerâmicas, garrafas antigas, entre outros artigos. Também ficamos a saber um pouco mais sobre o Don, a figura presente nos rótulos e campanhas publicitárias da Sandeman desde 1930, e que é considerada como uma das primeiras imagens de marca no mundo. Criado pelo artista britânico George Massiot Brown em 1928, partiu de uma encomenda da Sandeman. A marca queria que fosse criado um cartaz em que se fundissem os dois locais onde tinha negócios, e surgiu então o Don: envergando o típico chapéu sombrero de Jerez de la Frontera e uma capa utilizada por estudantes portugueses. Na mão, um copo de Porto ruby.

A visita guiada às caves pode ser de dois tipos: visita clássica e visita 1790. A primeira possibilita a prova de dois vinhos do Porto (um branco e um tinto), sendo um de categoria reserva. A segunda inclui a prova de cinco vinhos diferentes, alguns deles de categorias especiais. Eu fiz a visita clássica. Fora da época alta, as visitas são menos frequentes e são maioritariamente feitas em português. Caso queiras que a visita seja realizada num outro idioma, é melhor contactares as caves primeiro. As visitas são feitas em grupos (criados na hora), em horários pré-definidos.

O guia está trajado à imagem da lendária figura do Don, com o sombrero e a capa. Durante o trajecto, ficamos a conhecer mais sobre a história da marca e do edifício em que ela está instalada. Somos informados sobre os detalhes da produção, transporte, armazenamento e envelhecimento do vinho, e podemos também ver diferentes barris, de acordo com o tipo de vinho que está ali armazenado.

Após percorrermos parte das caves, assistimos a um pequeno vídeo. Depois, passamos por uma exposição com fotografias das vinhas, algumas delas aéreas, onde se pode ver toda a extensão da quinta. A visita termina numa sala com grandes mesas, onde dois copos de vinho do Porto aguardam por nós.

Confesso que a visita em si não me impressionou. Talvez por ser um grupo grande, não explorei o local com a calma que gostaria. Para além disso, o vídeo repete o que a guia explicou, não acrescentando nada de significativo. Acho que é completamente desnecessário. De qualquer das formas, gostei muito de ver os diferentes barris e conhecer um pouco mais sobre a história deste líquido tão interessante (e claro, ter tido a possibilidade de o provar no final). E tu, já foste a alguma das caves? Como foi a tua experiência?

Existem diversas teorias a respeito da origem do vinho do Porto. Uma das versões mais populares, defendida pelos produtores de Inglaterra, refere que a origem data de meados do século XVII, quando Inglaterra escolheu Portugal como o seu fornecedor de vinhos. Como o tempo de ligação entre os dois países era muito demorado, os mercadores britânicos começaram a adicionar aguardente ao vinho para o estabilizar, evitando assim a sua deterioração. No entanto, este processo já era conhecido antes do início do comércio com os ingleses. Na época dos Descobrimentos, o vinho era armazenado desta forma para se conservar o máximo de tempo possível durante as viagens. Mais tarde, surgiu a ideia de adicionar aguardente durante o processo de fermentação. O vinho que daí resulta fica com um sabor adocicado e um elevado teor alcoólico, como o conhecemos hoje.

Queres saber mais sobre este vinho? Então dá um saltinho ao Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. No site, somos convidados a descobrir as diferentes cores do vinho, e a conhecer tanto o seu processo de fabrico como de envelhecimento.